segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Caso Perdido

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Qualquer caso de saúde mental,
É caso para ser um caso perdido,
 O dinheiro é um caso pressentido,
Caso não o tenha é quase mortal,
E em caso da morte ter sucedido,
Sucede-se a óbvia relação causal,
Das causas ao efeito mais natural,
    De para morrer bastar estar vivo!...

Imagina-te bem vivo num caixão,
Há médicos à tua volta atenciosos,
As análises são casos espantosos,
 Das unhas encravadas ao coração,
Dos incríveis vírus muito famosos,
Até à cura por carniceiros zelosos,
Doutores da morte por prescrição,
Tão amáveis e de olhos carinhosos,
   Receitam a morte por procuração!...

Já fora do caixão onde estiveste,
A teu lado vai o caixão a enterrar,
À tua frente há uma porta celeste,
A única porta que nunca quiseste,
Aberta sobre ti convida-te a entrar,
Nas tuas costas há faturas a cobrar,
Dão-te toda a terra pelo que deste,
   Terra que pagaste e morres a pagar;
És um caso perdido,
Que médico algum quer encontrar,
O teu médico amigo,
Caminhou contigo,
Acreditaste que o sorriso te ia salvar,
Milagroso abrigo,
Mas, pobre condenado, até te matar,
Deste muito do que ele quis a ganhar,
         Esse simpático perigo!...
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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Esboço até ao Beijo

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Impassível boca tranquila,
Fechada por um subtil contorno,
Beijo apagado, nem quente nem morno,
Esconde-se debaixo do batom que cintila,
Desinteresse nem tépido nem frio da pupila,
     À vista de olhos tristes por causado transtorno!...

Há estrelas vivas a latejar sobre a língua latente,
Divagam entre o céu ansiado e o palato ansioso,
Curva-se uma suave linha ao desejo ardente,
Desabrocham úmidas bocas suavemente,
Florescem lábios num toque carinhoso,
      Cedem línguas ao beijo envolvente!...
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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Estranha.Poetisa

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Estranha poetisa desinspirada,
Estranheza de pontos severos,
Senhora da palavra ressumada,
Entre as palavras seca e coada,
Prosaica seguidora,
Prosa de salteadora,
Estranhos seus olhares austeros,
Afixados com desabafos sinceros,
Sobre a desinspiração consumada,
   De velha senhora!..

Poetisa e estranha,
A poetisa e a poesia,
Que dela se assanha,
E só nela se entranha,
A sua estranha ironia,
De ser prosa tamanha,
    Em ressessa agonia!...

Há estranhas moscas a voar das linhas,
Pautadas em velhas carnes desusadas,
Voam inclusas nas consciências pesadas,
Inconscientes do sol que as fez rainhas,
E fez poetisas de palavras consagradas,
Poesia protectora,
Caem as linhas e as moscas sozinhas,
Caídas, choram suas asas queimadas,
    Asas de velha senhora!...

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