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terça-feira, 3 de julho de 2018

Azar de Truta (Morte do Espírito da Pesca)

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Eu sou o rio,
Sou o pescador,
Eu sou quem me rio,
Do rio que se ri de mim,
Rio sem nascente, rio sem fim,
A transbordar de um cacifo vazio;
Cheiram as sujas águas a abafado bafio,
Aprisionadas num oceano de tratado fedor,
Há centenas de esfomeadas trutas ao dispor,
   Lançadas à fome por um pescador tardio!...
    
Acordaram as trutas muito cedo,
Dizem que algumas nem dormiram,
As trutas não sabem morrer de medo,
Morreram no cemitério onde caíram
Resignadas, entregam-se sem luta,
E muitas outras do rio saíram,
     Salvas pelo azar de truta!...

Há um pescador aborrecido,
Em sua pasmaceira absoluta,
    Do espírito da pesca desprovido!...

 

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quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Sede Salgada

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Os mares que que correm no bacalhau salgado,
Fazem correr rios que em minha boca desaguam,
Do sabor do suor que por mares de uvas foi pisado,
Emerge o sabor forte em rios de vinho naufragado,
De tão salgados, já meus sequiosos rios não suam,
Secam os nossos olhares que com os rios amuam,
    Não há bacalhau que seque neste mar acabado!...

Sacia-se o tempo,
Do tempo que não faz,
É o mar salgado mais sedento,
Quando a sede é um salgado tormento,
Que mais sede, cheia de sede, consigo trás,
Sem água nem vinho, só o lamento,
Desta insaciável sede voraz,
Sede sem fundamento,
    Só de sede capaz!...

Imaginam-se lençóis de água debaixo do lençol,
As sereias aguardam em salgados oceanos,
Esperam ser pescadas por doces enganos
Um sujo copo vazio morde o anzol,
Alucina o vinho debaixo do sol,
    Bebem do seu sal, os humanos!...


E continua o copo vazio,
Onde não há meio de chover,
O sal no bacalhau não para de crescer,
Enchem-se de sal os caudais secos do rio,
Cresce na boca água em pó com sabor a fastio,
Por afogamento, talvez a sede possa morrer,
  De sede não vá morrer a sede, por um fio,
     Fio d'água onde volte o vinho a correr!...


  
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sábado, 23 de setembro de 2017

Água de Guerra

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Vens tu, amor,
Desces os montes,
Passas por baixo das pontes,
Corres livre de qualquer estupor,
    O estupor que te bebe nas fontes!...

Vens tu, fresca e cintilante,
Por entre os pedregulhos do rio,
És de todos, és uma presente amante,
Um amor cristalino e refrescante,
Corres livre das margens do cio,
    Insinuas-te à sede, radiante,
        És saciar aconchegante!...

Vens tu, em tua forma de escorrer,
Orvalho vivo das manhãs adormecidas,
Por ti, não se importa a sede de morrer,
Luta o mundo para um pouco de ti beber,
Morrem tantas lágrimas já ressequidas,
Do bem comum que és, escondidas,
Escondem-te do direito de viver,
Vivem crianças, por ti, suicidas,
    Morrem por não te ter!...

Vens tu, amor,
Inocente sangue da terra,
Sangue do poder do estupor,
Estupor que sedento de guerra,
Em sua sede de poder te encerra,
    E por ti dá a beber só a dor!...

Dias de desespero virão,
Dias a transbordar de mágoa,
Dias que nas veias anoitecerão,
    Dias de sede, desertos sem água!...
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terça-feira, 16 de maio de 2017

Rios de Alegria sem Margens (nem água)

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Somos tão ricos em simpatias,
Vendemos nossos sorrisos inebriantes,
Queremos ser os mais felizes todos os dias,
Partilhamos com alegria todas as nossas alegrias,
Mas quando nos vem ao pensamento, por instantes,
No quanto os sorrisos de amigos podem ser mais brilhantes,
Tudo é válido para parecermos as mais pobres alegorias,
Entristecemos,
E tudo fazemos,
Por nós, entre sorrisos e gargalhadas dissonantes,
Como se fôssemos as mais tristes mercadorias,
Á venda nas vaidades mais arrogantes,
De verdadeira alegria vazios!...
Assim vivemos,
Assim morremos,
Como se fôssemos rios,
Rios sem margens nem águas,
Onde caminhássemos menos sombrios,
     E, juntos, pudéssemos lavar nossas mágoas!...


Quero tanto, tanto que sejas feliz,
Que dances nos braços da felicidade,
Se a felicidade for, como quem diz,
    Eu… com toda a minha caridade;
Alegra-te e sente como sou a tua raiz,
     Sou a árvore e o fruto da tua amizade!...
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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

A Ponte sobre Pedras firmes do Rio

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Minhas pedras silenciosas,
Que tanto resistis às águas mansas,
E tu, minha doce água que não te cansas,
Que passaste por amargas línguas furiosas,
Tão vivas são as vossas memórias grandiosas,
No coração das memórias sem lembranças,
   Pontes erguidas sobre pedras saudosas!...

São tão tuas estas minhas estórias,
Recordações sobre tuas águas estagnadas,
Onde flutua a nostalgia de minhas memórias,
Não me lembro de comprometidas promissórias,
Nem outras dívidas sobre muitas águas passadas,
Devo-te todas as minhas silenciosas glórias,
Barquitos de papel sobre águas paradas,
   Ponte de recordações obrigatórias!...

Devo-te tudo do que nada me deves,
Atrevo-me a nadar à volta de tuas velhas águas,
Pergunto-me, como a todas as pedras, tu te atreves,
    A ser pedra tão firme nesse teu rio de tantas mágoas!...
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quinta-feira, 28 de julho de 2016

Margem - Espuma da Nostalgia

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Contemplava aquele rio com uma só margem,
Sentado à beira do outro lado, uma miragem,
Mesmo lado da outra margem que era só uma
Por ali acima, a água entre margem nenhuma,
Corria debaixo de nenhuma sucinta passagem,
      Ponte, talvez, que unia as margens de espuma!...

Deitou-se no movimento transparente do leito,
Sob transparência de uma lágrima de nostalgia,
Fez-se rio, fez-se a margem firme em seu peito,
 E ponte atravessada sobre o rio que percorria!..
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segunda-feira, 20 de julho de 2015

Rio de Fogo

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Neste maldito inferno frígido de diabólico calor,
Vi com estes olhos que muito vinho têm bebido,
As chamas violaram as águas de um rio perdido,
Um grande fogo apagado, esse infernal estupor,
Atravessar rios a nado e deixar um sabor ardido,
     Incendiou frescas águas e levou consigo o amor!...

Quisera o rio encher-se com o sal das marinhas,
E ser atravessado pelas ardentes sereias ufanas,
Enchera-se de sol, de sal e areias muito fininhas,
Seriam os seus lábios beijados por doces rainhas,
Abriram-se ao fogo, as suas margens mundanas,
Mas, a nado veio o fogo do nada,
Levou o inferno à vaidade afogada,
Desse rio que foi ardendo num mar de chamas!...

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Há uma pequena enseada,
Há enseadas calmas e sozinhas,
Passam as doces águas calminhas,
O rio beija a quente areia enamorada,
     Acaricia-a com suas águas fresquinhas!...
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quarta-feira, 25 de março de 2015

Perto da Longa distância de Mim...


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Sabia que o fim do mundo existia!... Não o fim, não o mundo, nem o fim de qualquer procura cinzelado na poeira do tempo que pudesse perder-se na pré definição de um sonho concrectizado… ou apenas sonho, ou apenas a concrectização irrealizável de acordar no mundo e seu mundo, serenamente expandido dentro de si mesmo até à relação com outros mundos, milhões de mundos. Pelo menos, mais de meia dúzia de mundos e menos do que aqueles, impossíveis de serem tidos como razão!...
A distância e o caminho, o caminho e as encruzilhadas e, ainda, o trajecto da cruz e o carrego, o peso de si mesmo e da distância entre si e si mesmo, distantes da carne e distantes da alma, tudo entrelaçado num ADN de pensamento único. Passava o tempo, passava a distância de um tempo até ao tempo que não era outro, senão aquele que passava, sem relevância, sem esperança de memória. O tempo que passava, não passava das costas, jamais seria tempo de olhar em frente ou uma partícula empoeirada de tempo, com ou sem esperança. O tempo esquecido, não seria lamentado pelos olhos fixos no outro lado das costas voltadas para o que ia passando, deixado lá ficar, caído na sombra do esmorecimento do tempo que não interessava ao futuro afixado nos olhos fixos no outro lado das costas do aborrecimento!... Aí, estavam todas as cores vivas, toda a luz e os olhos cheios, a transbordar reflexos de sorrisos, de beijos transformados em borboletas coloridas com as cores, jamais imaginadas, dos mais belos arco-íris!... A distância do que está perto, entre o tempo dado como perdido, esquecido lá atrás, e o que falta e sempre faltará percorrer, afirmando a certeza de um horizonte lento, muito lento, quase imóvel, a movimentar-se, imperceptível, ao longo de uma linha interminável que vai do olhar que antecede o sentido mais periférico, para os sonhos permitidos aos olhos dos olhares sem periferia, por tão periféricos!...
Há uma sensação de vertigem na sensação dos caminhos que se movem dentro de nós, em meu próprio movimento de mim, e a satisfação plena de anular todas as distâncias entre o que eu sou e o que não sou, por mais longe que eu esteja de tudo, longe do que não é possível estar mais perto, de mim, inclusive!... Talvez me perguntasse, numa encruzilhada por aonde passei,
Por cada cruz e distância que em mim vive,
De mim, até onde jamais me perdi e procurei,
No ser eu, íngreme, e ser meu próprio declive,
A tendência vertiginosa por onde sempre irei,
Achando as dúvidas cruzadas que não contive,
E só Deus sabe das certezas, o que eu não sei,
Talvez eu seja o horizonte onde sempre estive,
    Caminho que me trás ao mundo onde fiquei!...
Regresso, após não ter partido, não ter voado nem levado pela pressa da ventania instantânea, sem instante e sem urgência, apenas o pensamento longo, calmo e silencioso!... O tempo da cor da noite, a noite da cor do luto transcendente, mais do que celebrar a morte, a celebração da vida e, no luto e na cor, a brancura leve de uma pena, até ao resplandecer incomparável de ser princípio e fim do mundo, em si mesmo, com o mesmo amor em continuar o caminho que, partindo do mais íntimo de si, continuava até ao horizonte sempre longínquo, que o atravessava de um ponto, algures dentro de si, até ao ponto mais distante de si mesmo!...
Umas vezes, a brancura da pena do peito que da garça se soltou, flutua num contínuo pairar da sua leveza sobre as coisas mais densas, como o entardecer, como o peso do dia que vai adormecendo e se deita na noite, sem comoção, mas, apenas distante do peito que não é seu!... Perde-se a pena, a garça continua o seu voo em voos curtos sobre as longas margens do rio imperturbável, quase sereno, tão sereno quanto o voo solitário da única ave que ficou para sobrevoar o silêncio, a quietude, a paixão inexplicável pelas árvores vivas que, a seus pés, acarinham os ramos secos das árvores mortas. Um carinho distante, inconciliável, unidos pela mesma paixão da garça!... E o ninho que nunca foi visto, o saca-rabos e a raposa, a distância sempre presente e a ausência de Deus que está longe das garças. Um dia, a vida, no mesmo dia, a morte!... Os saca-rabos que nunca foram vistos e as raposas que, longe dos nossos olhos, existem, à distância de um voo cansado, de um poiso rasteiro… até ao dia seguinte onde apenas um longo pescoço branco, um longo bico pálido e a vida que se ausentou, para sempre, dos olhos de uma garça!... A pena que restou, o acaso da distância e a distância percorrida por essa pena até à minha pena, penas que emplumam a vida sobre as margens de um espaço livre, das dúvidas sem margem!....
Longe de mim, para lá de minha aprendizagem,
À margem dos meus pensamentos que longe de mim se vão encontrar,
Compreendi que, muito longe de nós, somos uma breve passagem,
Passamos por percorrer o mundo que queremos abraçar,
Todo, para lá dos nossos medos e nossa coragem,
Compramos o bilhete de acesso à viagem,
O acesso à liberdade de sonhar,
E depois de tanto procurar,
Encontramo-nos na mensagem:
    Saímos de nós para em nós querermos ficar!...
Longe de nós, onde estamos longe de todos, todos são o que somos, próximos de ir onde nunca fomos, não fosse a vida que em nós caminha, o caminho mais distante para chegar ao outro… seríamos nós, no nosso lugar, esse lugar de onde nunca saímos.
Distante!...
Á distância de mim!...


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domingo, 7 de abril de 2013

Saber a mar!...


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Aprendera a falar ao mar bravio,
Com as águas sossegadas do rio,
Confessa ao sal não saber a mar,
E ao sol o sabor de seu desvario,
Do sentir a felicidade a desaguar,
Nos olhos onde sabia encontrar,
     Um mar de amor sempre tardio!...

Há o saber a mar,
Dos rios enamorados,
Ansiosos por serem saboreados,
Pelas línguas salgadas do sabor amar,
Amor de doces lágrimas dadas a saborear,
Namoram por diferentes sabores separados,
   Até ao beijo tardio onde se vão encontrar!...

Ao entardecer, nos tardios lábios da foz,
Unem todos os desejos em segredo,
Num único sabor de estarem sós,
Prometem-se a uma só voz,
     E beijam-se sem medo!...
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