sábado, 31 de dezembro de 2016

Fim do Fim

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Este fim,
Tão prestes a ser fim,
É o fim de muitos sonhos,
É o fim de desejos medonhos,
O princípio de tudo que há em mim,
O triste fim dos sorrisos tristonhos,
Dos velhos sorrisos assim, assim,
E dos tristes “assins” risonhos!...

Mas... não tenham ilusões,
Que o pior dos fins está para vir,
Há um fim que teima em não parar de rir,
Ri-se do princípio de todas as ambições,
Até ao fim, alguns não vão conseguir,
Serão vencidos pelas tradições,
E pelas mais velhas emoções,
Ás quais não vão resistir,
     E eis novas desilusões!...

Este é o fim do do dinheiro,
O fim de muita vendida certeza,
É o princípio novo da beleza,
Que teve um fim certeiro,
O fim de toda a riqueza,
 Desumana por inteiro!...
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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Dor de Amor

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Dói esta minha dor não partilhada,
Esta dor egoísta que tanto magoa,
Dói a perda desta dor encontrada,
É a minha esperança que se acaba,
Para que o teu amor em ti não doa,
 Será tão só minha a tua dor amada,
    Dor que no meu amor se amontoa!...

Fui escolhido para amar, sem saber,
Que o amar também pode ser dor,
Dói o sorriso que em ti eu posso ler,
 O livro só meu proibido de escrever,
Onde oculto tuas palavras de amor,
     Numa página que não pára de doer!...

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Todos os dias têm as horas contadas,
As semanas são contas pagas ao mês,
Os anos não hesitam que, por sua vez,
Deixam atrás, dívidas nunca saldadas,
Ficam para os próximos anos adiadas,
E logo passa o amor com tanta rapidez,
Que há livros d’amor a serem rasgados,
   Por quem pelo amor próprio pouco fez!...
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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Ponto de Luz (Estrela)

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Talvez fosse um mago, na noite, perdido,
Entre a escuridão e o que , por mim, desconheço,
Trespassou-me uma estrela de brilho entristecido,
Vejo seu voo triste e entristeço,
Falta-me a luz e anoiteço,
Procuro-me no sinal,
Na verbo impessoal,
Na escuridão e não me reconheço,
Sucumbo sob mim, triste e enfraquecido,
Não sei com quem,  na escuridão, me pareço,
Dou-me a mim mesmo como desaparecido,
Espero a estrela que brilhava comigo,
Aquela guia universal,
Luz de Deus consensual,
A mesma luz que a Vida trás consigo,
   Sinto que a Vida nasce e amanheço,
Chega a natividade que persigo,
Não sei se tal Luz mereço,
Nasce a Luz de Natal,
    Sorrio e adormeço!...
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domingo, 18 de dezembro de 2016

As Duas Vezes do Bêbado

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Um bêbado deve ouvir-se duas vezes,
Uma, antes de ser ouvido,
Outra, antes de ter caído;
Um bêbado sem dizer nada tem muito a dizer,
Abre a boca duas vezes:
Uma para dizer a verdade e outra para beber,
Enquanto bebe nada diz,
Só em seu copo mete o nariz,
E todos à sua volta bebem,
São todos o espelho do país,
Mas só os bêbados pagam o que devem,
Pagam até o que não bebem,
Pagam o que muitos bebem sem pagar,
Só ao bêbado ninguém paga para se embebedar;
Paga a conta quando cai,
Quem não paga solta um ai,
Levanta-se o bêbado a cambalear,
Segue por onde o vinho vai,
Entre trambolhões e sem ninguém para o ajudar,
Lá chega a casa quando a mulher sai,
Sem nada dizer, muito diz sem falar,
E não há chaves que abram o raio daquela porta!...
A chave está torta,
A fechadura está torta,
E aquela mulher que saiu,
Não parece ser a mesma que a sogra pariu,
Ou a vida está muito torta,
Ou não foi a sua mulher que viu,
Mas, não importa,
Uma porta é uma porta,
 As chaves já antes esta porta abriu,
Só não se lembra daquela horta,
         E o rolo da massa sumiu!!!!!!!...
-Que se lixe, fico mesmo aqui,
Já não me lembro do que bebi,
     Mas, ao pé desta porta até que se está bem,
A porta de minha casa que nunca vi,
Casa minha e de mais alguém,
     Com quem nunca vivi!...

“Alô, Maria...
    O meu Manel está à tua porta a dormir?!!...
E disse ele que ontem não se embebedaria,
Por isso aproveitei para sair com quem queria,
E passei a noite com o Zé que não parou de se rir;
A propósito, obrigado pela tua casa, mas é muito fria,
Vi o meu Manel chegar a tua casa quando eu saía,
      Mas ele não me conheceu quando estava a saír!...”

Um bêbado deve ouvir-se duas vezes antes de beber,

Uma, antes de, por todas as razões, ser fodido,
    Outra, antes de alguém, por causa do vinho, o foder!...
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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Não Sei o Que Dizer

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Tantas são as palavras de amor,
Tão pública a compaixão pelo mais pobre ser,
E, não sabendo, aqui estou eu sem nada saber,
Pouco ou nada sei, afinal, sobre a explícita dor,
Pouco sei do que sabe Deus e Nosso Senhor,
Nem sei com quantas palavras fazer,
O que não faço por não perceber,
As silenciosas Palavras do Criador,
E ao seu sábio silêncio me submeter,
Na esperança de ser-me posto ao dispor,
A Fé inabalável de jamais deixar de crer,
Nesta alma aprisionada em meu exterior;
-Liberta minha Alma em meu interior,
Anseio por meu coração enternecer,
Liberto do limite, fazer-me crescer,
Ser como teu terno coração acolhedor,
Onde eu acolha toda a vontade de merecer,
Tua divina força que me convide a fortalecer,
Até à força de ajoelhar-me como humilde vencedor,
Até ser capaz de todas as fomes, humildemente, vencer,
Derrotar, meigamente, guerras e provar o divino sabor,
    Do que a tua doce bondade me possa conceder!...

Não sei que dizer,
Desta fome que não pára de alastrar,
De todas as lágrimas que já deixaram de brilhar,
Das crianças que deviam ter lugar em nossos corações,
As nossas crianças que não aprenderam como não chorar,
Choram por todas as lágrimas ausentes de todas as nações,
Só não aprenderam a chorar pelas suas cruéis privações,
Não sabem a quem suas lágrimas, brilho estão a dar,
Lágrimas cantadas em valiosas canções,
Música e diamantes que a fome continua a alimentar,
Sobre tocantes lágrimas de caridade, erguem-se instituições,
Em nome de Deus e dessa caridade incapaz de ajudar,
O coração sem Alma de todas as frias emoções!...

E esta minha vergonha que não pára de crescer,
Cercada por terços feitos de lágrimas em suas orações...
   Diz-me Tu, meu Deus, porque eu não sei o que dizer!...
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